Sabe aquela reunião de pais na escola que ninguém aparece? Pois é. Foi mais ou menos isso o que aconteceu ontem na Câmara Municipal de Londrina.
A pauta era finalmente relevante, sensível e mexe diretamente com a vida de quem sustenta a sala de aula: os professores da rede municipal.
O projeto de lei 35/2025 propõe dar prioridade de matrícula aos filhos desses profissionais nas escolas onde trabalham. Só que, ironicamente, o que se viu foi um plenário vazio. Ausência de público, ausência de representantes da Secretaria Municipal de Educação e do Conselho Municipal de Educação. Ausência, principalmente, de vontade de debater a sério um tema que há tempos pede atenção.
A proposta, de autoria do vereador Marinho (PL), quer garantir que filhos de professores possam estudar nas mesmas escolas onde seus pais lecionam, desde que a unidade ofereça a etapa de ensino adequada.
Segundo o vereador, muitos professores têm recorrido à Justiça para conseguir esse direito, já que o critério de georreferenciamento (a regra que determina que a criança estude perto de casa) não permite a matrícula onde o pai ou a mãe trabalham.
Faz sentido? Para quem conhece a rotina puxada dos professores, faz sim. Facilita a logística, aproxima o filho do ambiente escolar do pai ou da mãe e pode, claro, incentivar uma participação mais ativa na vida escolar da criança. Algo que, diga-se de passagem, é sempre exaltado pela própria Secretaria de Educação como essencial.
Mas aí vem a ironia: justamente a Secretaria, contrária ao projeto, não apareceu na audiência.
O Conselho Municipal de Educação também não. Ambos enviaram pareceres contrários, argumentando que a proposta fere o princípio da isonomia e cria um privilégio injusto.
Enquanto isso, quem apareceu foi pouca gente. A audiência pública foi transmitida online, mas o interesse coletivo parece ter sido nulo. E olha que estamos falando de educação pública, não de um projeto supermidiático como bebês reborn.
Estamos falando de professores tentando conciliar o papel de educadores com o de pais e mães. E de uma cidade que, ao que tudo indica, ainda não entendeu o tamanho da bronca.
O projeto agora vai à votação na Comissão de Educação (que presidiu a audiência). Se aprovado, segue para o plenário. Vale lembrar que a Comissão de Justiça da Câmara já deu aval, considerando a proposta constitucional.