O mesmo tempo que separa o lançamento do Plano Real da era das figurinhas do WhatsApp. Pois foi lá em 1995, quando a gente ainda usava orelhão, que a Universidade Estadual de Londrina resolveu encarar um desafio linguístico e, sejamos sinceros, eterno: ajudar brasileiros a escrever e falar um português mais ajustado, sem terrorismo gramatical, mas com rigor e empatia.
Nascia o Disque-Gramática, projeto de extensão que desde então atende, gratuitamente, dúvidas sobre o uso da língua portuguesa. A proposta? Aproximar a gramática do cotidiano. Uma tarefa nada simples, especialmente num país onde o “porquê” tem quatro formas e nenhuma delas é intuitiva.
O projeto começou sob a batuta do professor Joaquim Carvalho da Silva e, por quase duas décadas, foi conduzido com elegância e firmeza pela professora Cristina Valéria Bulhões Simón.
Foram eles que levaram o projeto para o rádio, mais precisamente para a Paiquerê 91,7 (na época, AM 1110) no programa Fala Brasil, que ficou no ar de 2006 até 2023. Sim, você leu certo: quase 20 anos explicando gramática em áudios curtos.
Depois, com a migração da rádio para o FM e uma programação mais musical, o Disque-Gramática emplacou o Paiquerê Letra e Música, entre 2019 e 2022, apresentado por mim, com a professora Cristina analisando letras de canções brasileiras.
Agora, em 2024, com a aposentadoria de Cristina Bulhões Simón, quem assume o desafio é o professor Antonio Lemes Guerra Junior, que, veja só, conheceu o projeto ainda na graduação. De aluno a coordenador. Ciclo completo.
Para comemorar essas três décadas de resistência linguística, o projeto iniciou nesta segunda-feira (23) uma programação especial. Tem exposição na UEL, minicurso no dia 5 de julho e até palestra sobre “Gramaticoteca” (sim, o nome é ótimo). O ponto alto será a cerimônia do dia 30 de junho, no Anfiteatro Maior do CLCH. Lá estarão reunidos antigos e novos colaboradores, numa noite pra provar que sim, há futuro para quem acredita no ensino da língua.
Hoje, claro, o atendimento também é via WhatsApp (3371-4619). É preciso atualizar os meios, mesmo com uma causa tão clássica.
E a gente fica aqui, torcendo para que mais projetos como esse sobrevivam. Porque, sinceramente? Saber escrever e se comunicar bem nunca foi tão necessário. E se a gramática ainda assusta, é bom lembrar: tem gente, em Londrina, que há 30 anos atende esse chamado. Literalmente.