Vinte dias. É esse o tempo que um incêndio vem queimando a área de resíduos verdes do aterro sanitário de Cambé, e, infelizmente, a situação está longe de ser novidade.
A fumaça não é tóxica, segundo os bombeiros. Mas a área atingida soma cerca de três mil metros quadrados, tomada por galhadas, folhas, restos de poda e capina recolhidos pela própria Prefeitura. Material seco e acumulado, a combinação perfeita para a tal "combustão espontânea", que pode até ser natural na teoria, mas é provocada, na prática, por uma política pública que ignora o básico, gestão.
O Corpo de Bombeiros chegou a usar caminhões-pipa, mas a água não alcança os focos subterrâneos. O fogo segue avançando sob a terra. Um aceiro ambiental foi feito ao redor da área para evitar que se alastre. E só. Nada mais. A fumaça sobe todo dia. A terra continua quente.
A cena pode ser vista até do quartel dos bombeiros, a seis quilômetros dali. Um incêndio que se assiste de camarote.
Não há prazo para o fogo apagar. Aliás, nem parece haver pressa. Isso já aconteceu outras vezes. Em alguns anos, levou até dois meses para ser totalmente extinto.
Porque é assim que funciona em Cambé, o fogo pode até ser novo, mas o problema é velho. E queimando há muito tempo.
O aterro opera sem licença ambiental válida desde 2016. Oito anos de irregularidade. E, pasme, o Ministério Público move uma Ação Civil Pública desde 2022 para obrigar o município a reformular sua política de resíduos sólidos. Resultado? Nenhum.
A atual secretária de Meio Ambiente, Roberta Queiroz, admitiu em entrevistas recentes que a licença está vencida há nove anos. O prefeito também. Dizem ambos que a Prefeitura trabalha para regularizar a situação.
Enquanto isso, moradores próximos seguem preocupados, e não é para menos. Mesmo que a fumaça não seja considerada perigosa, segundo os bombeiros, o desconforto e a insegurança são reais.
A fumaça que sobe agora, em boa parte, é o vapor da chuva evaporando ao encontrar o calor dos focos. O tempo esfriou, choveu nos últimos dias, o que tem ajudado a evitar que o fogo se alastre.
Mas, e quando o clima seco voltar? Se o incêndio não estiver totalmente controlado e apagado, ele cresce. E alastra.
E, quando outra montanha de resíduos verdes for esquecida no mesmo lugar, a gente espera o quê? Mais uma queimada subterrânea "espontânea", outra vez?