A polêmica da semana tem nome, sobrenome e valor com muitos zeros: R$ 460 milhões. Foi esse o número que o ex-prefeito Marcelo Belinati (PP) jogou nas redes sociais na última quarta-feira (28), todo empolgado, ao dizer que deixou a Prefeitura com o “maior superávit da história de Londrina”. Segundo ele, é dinheiro em caixa, tá no Jornal Oficial do Município e quem quiser conferir que vá lá, página 39 da edição do dia 27 de maio.
Só que não demorou muito para o atual governo, agora sob comando de Tiago Amaral (PSD), colocar os dois pés no freio da euforia, depois da prestação de contas na Câmara Municipal no mesmo dia do post.
O dinheiro pode até existir no papel, mas acessível mesmo, só R$ 24,4 milhões.
O secretário municipal da Fazenda, Eder Pires, explicou em entrevista ao nosso Jornal da Manhã, na Rádio Paiquerê 91,7 o tal superávit anunciado por Marcelo, R$ 211 milhões são da Previdência, ou seja, nem pense em mexer. E outros quase R$ 187 milhões estão carimbados, destinados para áreas específicas. Traduzindo: não dá pra usar com o que a prefeitura quiser.
Aí a gente começa a entender por que a atual gestão mantém um contingenciamento de 30% desde fevereiro. Segundo Pires, a previsão de arrecadação para este ano foi superestimada em cerca de R$ 90 milhões. E os buracos do orçamento já estavam escancarados antes da virada de chave da gestão.
Contabilizando: são mais de R$ 100 milhões no transporte coletivo, R$ 50 milhões na Educação, R$ 30 milhões na coleta de lixo. Isso sem contar obras de escolas e creches que estão emperradas por falta de R$ 11 milhões. Tem mais R$ 2,59 milhões da Cohab. E a arrecadação também veio mais tímida do que o esperado: entre janeiro e abril, o município previa arrecadar R$ 841 milhões, mas parou nos R$ 800 milhões.
O secretário ainda lembrou que, em 2024, algumas áreas já davam sinais de que o orçamento não ia fechar. O pessoal da Educação, por exemplo, avisou em junho que os valores não dariam.
Então, é superávit ou déficit? NO FIM OS DOIS ESTÃO CERTOS.
Marcelo Belinati não mentiu: o superávit está registrado oficialmente. Mas Tiago Amaral também não está errado ao dizer que o dinheiro “livre” mesmo é bem menos. A diferença está na leitura que cada um faz dos números.
Tudo depende do ponto de vista, e de quem está postando nas redes. A famosa 'narrativa'. Dinheiro tem, como Belinati falou. Mas não dá para usar, como Tiago Amaral disse.
Agora, o papel do gestor é correr atrás para equilibrar as contas, e não ficar todo mês olhando a tabela financeira, esperando que ela se equilibre sozinha. Recurso municipal é móvel, flexível, assim como as demandas da sociedade.
Na gestão passada, houve sim uma boa arrecadação e uma boa disponibilidade do que foi arrecadado. Mas dizer que o dinheiro está todo no caixa e pronto pra usar... também não é bem assim.