Eu não sei vocês, mas tem dias em que o Senado parece mais um ringue do UFC do que uma casa legislativa. E hoje, terça-feira (27), foi exatamente isso.
A convidada da vez era a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que foi à Comissão de Infraestrutura (CI) prestar esclarecimentos sobre, entre outros temas espinhosos, o licenciamento ambiental da BR-319, a estrada no meio da Amazônia.
O que era pra ser uma audiência técnica virou um verdadeiro barraco institucional. O senador Marcos Rogério (PL-RO), com o sutil tato de um trator desgovernado, partiu para o ataque com frases como “a senhora não merece respeito” e ainda teve a pachorra de mandar Marina “se colocar no seu lugar”. Pois bem, ela se colocou. E com classe, mas também com firmeza. “Não sou mulher submissa”, respondeu, antes de se levantar e sair da sala.
A pergunta que fica é: será que teriam feito o mesmo se no lugar dela estivesse um homem? Um ministro com o perfil, por exemplo, de um Ronaldo Caiado, mais alto, de voz grave, aparência entimidadora, de quem está acostumado a dar murro na mesa? Duvido.
Há uma linha invisível, mas ainda muito presente, entre crítica política e desrespeito de gênero. E hoje ela foi cruzada com os dois pés.
Marina deixou bem claro que não aceitaria ser agredida nem responsabilizada por tudo que não é atribuição dela. Disse que não vai engolir desaforo e, sinceramente, quem pode culpá-la? Apontar o dedo pra ela por cada problema ambiental do país parece uma forma cômoda de lavar as mãos. Mas fazer isso com arrogância e num tom quase de humilhação pública, aí já é covardia disfarçada de discurso político.
O governo federal reagiu à altura: em nota, repudiou os ataques e classificou as falas como ofensivas e desrespeitosas. Vários ministros e aliados também saíram em defesa da ministra. E, como boa veterana da política, Marina mandou aquela frase final: “Saí mais fortalecida”.