Francisco sempre foi um papa com passaporte carimbado e sem medo de causar onde quer que fosse. Desde que assumiu o papado em 2013, Papa Francisco resolveu que não ia ser um pontífice de poltrona. As viagens dele não foram exatamente turísticas. Ele fez várias viagens internacionais, algumas esperadas, outras surpreendentes, e outras… só polêmicas, mesmo.
Separei aqui as mais intensas do papa que não teve medo de ir, onde muito político corre de medo.
Logo no início, Francisco visitou Cuba e se encontrou com o próprio Fidel Castro (sim, aquele Fidel), e logo depois aterrissou em Washington D.C. nos Estados Unidos — dois países com uma relação, digamos, nada amistosa. Ele se encontrou com Fidel Castro, o que levantou MUITAS sobrancelhas no Ocidente. Já nos EUA, discursou no Congresso americano, criticando o sistema econômico que favorece os ricos e falando sobre imigração, meio ambiente e justiça social. No Congresso dos EUA, ele soltou uma lista de indiretas sobre desigualdade, imigração, consumo exagerado e… capitalismo selvagem. Ou seja, cutucou os dois lados com o mesmo cajado pastoral.
Sim, ele foi para Myanmar (antiga Birmânia) num momento tenso: o país estava sendo acusado de genocídio contra os rohingyas, uma minoria muçulmana. O primeiro papa da história a pisar em Myanmar, no meio da crise humanitária dos rohingyas, uma minoria muçulmana sendo perseguida. Mas, num baita dilema diplomático, Francisco foi criticado por não usar o termo "rohingya" enquanto estava no país. Pegou mal? Pegou. Mas depois, em Bangladesh, ele se encontrou com refugiados e aí sim chamou as coisas pelo nome. Foi um malabarismo político-religioso de alto nível.
Essa foi pra quem achava que papa não se mete em zona de guerra. Foi a primeira visita de um papa ao Iraque em toda a história. Isso já seria histórico por si só. Mas Francisco foi além: visitou Mosul, antiga fortaleza, uma cidade destruída pelo Estado Islâmico. Falou de paz, perdão e reconciliação. E ainda visitou líderes xiitas, dando aquele recado básico de convivência inter-religiosa. Um gesto histórico, ousado e, claro, que fez a segurança vaticana sofrer. Uma visita com simbolismo enorme e que mostrou coragem (ou teimosia santa, dependendo do ponto de vista).
Antes de ir pessoalmente ao Sudão do Sul, Francisco já tinha deixado o mundo boquiaberto quando, em 2019, beijou os pés dos líderes rivais do país em pleno Vaticano. Depois foi até o país mais jovem do mundo, assolado por guerras civis, fome e conflitos étnicos. Mais do que uma visita, foi uma missão de paz. Sim, literalmente. Um gesto forte e simbólico que gerou aplausos e também críticas por parte de setores mais tradicionais da Igreja. O chefe de 1 bilhão de católicos se ajoelhando pra pedir que dois homens pararem de se matar.
A visita ao Patriarca Ortodoxo de Constantinopla (hoje Istambul) foi marcada por um gesto icônico: Francisco beijou a mão de Bartolomeu I, líder da Igreja Ortodoxa. Um sinal de humildade? Se pensarmos que um papa ora numa mesquita e beija a mão de um ortodoxo, sim. Mas também um sinal que mexeu com a galera mais conservadora, que viu isso como submissão. Além disso, ele visitou a Mesquita Azul e fez oração silenciosa com líderes muçulmanos, o que gerou críticas internas de setores mais rígidos da Igreja. Como pode, um papa se ajoelhar assim?
Curiosamente, uma das maiores polêmicas dele foi não ter ido. Durante a guerra entre Rússia e Ucrânia, muita gente esperava que Francisco colocasse o pé em Kiev. Mas ele preferiu o tom diplomático, equilibrando declarações e evitando bater de frente com Putin diretamente. Ele não foi até a Ucrânia durante a guerra com a Rússia, mas se posicionou várias vezes pela paz. O que pegou mal para muita gente foi o tom diplomático demais com a Russia e o fato de ele não condenar diretamente Putin logo de cara. Enquanto o mundo todo apontava o dedo, Francisco tentava mediar, o que irritou tanto os ucranianos quanto os apoiadores ocidentais.
Nem precisava sair do Vaticano pra gerar polêmica. Francisco recebeu líderes indígenas, muçulmanos, trans, pessoas em situação de rua, e até convidou ateus para dialogar sobre o futuro do planeta. Fez sínodos sobre a Amazônia, defendeu os povos originários e disse que a Igreja tinha que ser "um hospital de campanha", não um clube fechado. Resultado: virou ídolo progressista e pedra no sapato dos conservadores. Em Roma mesmo, ele conseguiu causar mais que muito papa viajante.
Francisco, primeiro Papa latino, queria começar seu papado mostrando proximidade com o Sul Global. E o Brasil, maior país católico do mundo, era a vitrine perfeita. Mas não foi só isso: ele sabia que a Igreja estava perdendo espaço por aqui e precisava reconectar com a juventude. Escolheu, literalmente, botar o pé na areia. E sim, teve até missa em Copacabana.
Francisco foi o papa da mochila pronta e da língua afiada. Onde tinha crise, ele ia. Onde tinha conflito, ele falava. E mesmo quando ficou calado, isso já virava notícia. Com erros, acertos, gestos ousados e alguns silêncios complicados, sim. Mas sempre com intenção clara: fazer da Igreja algo mais vivo, mais próximo, mais humano.