Há décadas, quase nove (a idade de Londrina), ouvimos algumas falácias sobre as pessoas em situação de rua na cidade.
A mais famosa delas é a de que um ônibus, vindo de algum lugar desconhecido, de madrugada, enviado por prefeitos da região, despeja mendigos na cidade na calada da noite. Juro que imagino um filme nessa hora.
Não há teoria mais ultrapassada do que essa. Setentista, da época de Alborguetti no rádio e das radionovelas policiais.
Só acredita nessa falácia quem nunca andou por um assentamento, nunca visitou uma periferia e jamais presenciou a situação das famílias em vulnerabilidade na nossa cidade.
Em 2023, segundo o Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, cerca de 31 mil famílias em Londrina estavam em situação de extrema pobreza, o que corresponde a aproximadamente 120 mil pessoas. Os dados são obtidos por meio da identificação das famílias de baixa renda para incluí-las em programas sociais.
Quem mora em extrema condição de pobreza em Londrina precisa de apenas uma chuva para acabar morando na rua. São moradores de rua, mas a rua ainda lhes falta. Estão com o que restou de um barraco.
É claro que Londrina gera a própria pobreza. A desigualdade, o envolvimento com drogas, as brigas familiares e diversos outros fatores fazem com que as pessoas acabem morando nas ruas. Não é necessário um Fusca (ou, nos dias de hoje, um UP) para trazer uma ou duas pessoas de outras cidades. Muito menos um ônibus enviado oficialmente por prefeitos.
Agora, essa falácia chegou a Rolândia, onde o vereador e presidente da Câmara afirma que a operação Choque de Ordem está mandando mendigos para lá. Ainda não encontrei quem tenha visto uma fila indiana de mendigos percorrendo a BR-369 ou a Av. José Bonifácio, em Cambé, para chegar até a "cidade de refúgio".
Ou ele, na inocência, acreditou nessa lenda, ou simplesmente não percebe que Rolândia também gera a própria pobreza. Aliás, todas as cidades do Paraná, do Brasil e do mundo enfrentam isso – e, convenhamos, não é preciso ser um expert em Ciências Sociais para entender.
Enquanto não há contagem, pesquisa, tratamento ou qualquer atenção oficial, as pesquisas extraoficiais, os "Data Mendigos", continuam contando quinhentos, mil, dois mil, três mil moradores de rua, nesta cidade ou naquela. E a população acredita.